Ascensões Impossíveis

O que chamamos “homem” é talvez indissociável do signo de sua queda e de seus desejos de ascensão. Desejos de corrigir o desvio essencial, recuperar a origem perdida, ou apenas elevar-se às esferas celestes para, quem sabe, tocar os mistérios do universo e dos deuses. Transcender, ainda que por um instante, nossa miserável e errante existência sobre este astro: não foi esta uma das promessas da arte?

Anna Paola Protasio é arquiteta de formação e transparece nesta exposição sua relação com a tradição construtiva da arte. A artista apropria-se de escadas de obra como metáfora poética das elevações: escadas que, sobrepostas em tênue equilíbrio, constroem pontes interrompidas em direção à abóbada celeste. 

Escadas transparentes e frágeis que parecem querer alcançar os raios solares ou deles pender. Escadas intocáveis, porque de pregos ou cobertas e vedadas. Escadas que, atraídas para um núcleo, sugerem construir um mundo ou dilatá-lo em explosões e vetores.  Escadas que terminam por trair sua função originária: conduzir ao alto. Afinal, são escadas impossíveis, são ascensões impossíveis. Toda ascensão é apenas um desejo. A realização de seu ideal esteve sempre suspensa em reconstruções intermináveis, em escadas e pontes inacabadas. Arte não é o instante da transcendência, alertam-nos as escadas de Anna Paola. Ao contrário, alimenta-se das perplexidades e vertigens das quedas, dos mistérios insolúveis do universo, das errâncias que fizeram o homem buscar, em vão, seu rosto refletido nas estrelas. 

Marisa Flórido César
Curadora. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais pela Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.