Um labirinto é um cruzamento de caminhos. Em geral, um sistema de defesa ou prova de iniciação, um plano preciso de trilhas embaralhadas calculado para guardar uma revelação em seu centro. Ele anuncia e protege a existência de algo que só aos iniciados é concedido o acesso: como a imortalidade, a consciência ou a interioridade de si, o enigma da pessoa humana. Combinação de dois motivos, a espiral e a trança, o labirinto também expressa o anseio de figurar o infinito e experimentá-lo na vida humana: é o devir perpétuo da espiral, o perene retorno da trança. Mas aquele que penetrou o labirinto, sem conhecer a priori suas coordenadas, arrisca-se a, nele, irremediavelmente perder-se. Desvario e imprevisibilidade aguardam-no em suas inúmeras interseções.
Labirinto
Labirinto intitula estas esculturas de Anna Paola Protasio. Como Dédalo, o arquiteto do labirinto de Creta, Anna Paola projeta e constrói seu labirinto com laborioso cálculo. Como Ariadne, personificação do amor reflexivo, promete-nos o fio que, por ele, nos conduzirá. Cálculo e emoção trançam-se e confundem seus limites. As grandes peças negras de Anna Paola assemelham-se a enormes fitas ou fios em espiral, como se possuíssem a maleabilidade e a leveza do tecido ou do papel. Um toque e olhar aproximado, entretanto, ajudam-nos a desfazer o engano, a escapar da primeira armadilha: são moldadas em alumínio e possuem a rigidez do material. Difíceis de deslocar ou de desatar, carregam todo o peso e a dificuldade que seu título alude: penetrar o labirinto é enfrentar seus riscos e extravios.
Marisa Flórido Cesar, 2007
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais pela Escola de Belas-Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro.